terça-feira, 4 de junho de 2013

MOVIMENTOS SOCIAIS

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ELEIÇÕES

Por ocasião da formação da chapa do Partido Republicano Federal que concorreria às eleições de 24 de fevereiro de 1927 para o Senado e Câmara Federais,estalou novo dissídio. A chapa oficial estava organizada da seguinte forma: para senador: Juvenal Lamartine de Faria; para deputados federais: Rafael Fernandes Gurjão, Augusto Leopoldo Raposo da Câmara e Dioclécio Dantas Duarte. Em nota posterior, o governador explicou que a quarta vaga de deputado estava reservada para a minoria. José Augusto justificou a exclusão dos elementos ligados aos Maranhão, sob a alegação de que eles tinham sido “desleais”, sobretudo por ter em impedido o deputado Juvenal Lamartine (líder da bancada potiguar) de participar das principais comissões parlamentares e obstruído os pleitos do governo do Estado junto aos ministérios. Os excluídos publicaram um “manifesto” assinado pelos senadores Ferreira Chaves (agora reaglutinado à facção dos Maranhão), Eloy de Souza, João de Lyra Tavares (irmão de Tavares de Lyra), deputados federais Georgino Avelino e Alberto Maranhão e o ministro (do Tribunal de Contas da União) Augusto Tavares de Lyra protestando pela exclusão e invocando os termos do “Acordo” de 1923, que lhes garantiria a reeleição.Em sua resposta o governador afirmou que a tradição política do Estado era a da reeleição dos correligionários que andassem “lealmente” e “se conduzissem dignamente no apoio que devem ao governo federal e ao do Estado”, acrescentando que não se comprometia com a reeleição do senador João de Lyra Tavares e dos deputados Georgino Avelino e Alberto Maranhão

    As explicações e os ataques prosseguiram até que a intervenção do presidente Washington Luís, com a intermediação do deputado Arnolfo Azevedo, presidente da Câmara dos Deputados, permitiu que fosse celebrado novo acordo. Através deste, Eloy de Souza renunciou à sua cadeira senatorial, abrindo espaço para a composição. A chapa para o Senado foi composta com os nomes de Juvenal Lamartine (facção do Seridó) e João de Lyra Tavares (facção dos Maranhão, candidato à reeleição); Ferreira Chaves continuaria como senador, pois fora eleito em 1923 para um mandato de oito anos.Para a Câmara Federal foram apresentados os nomes de Rafael Fernandes,Dioclécio Duarte (facção do Seridó), Alberto Maranhão e Eloy de Souza (facção dos Maranhão).José Augusto assinou o “acordo” a contragosto e, pouco tempo depois, o Partido Republicano Federal (PRF) indicou Juvenal Lamartine para sucedê-lo no governo, indo ele próprio para o Senado na vaga aberta por Lamartine.Essa disputa marcou o último dos grandes dissídios entre os representantes da “política do agreste” (como se designava, às vezes, a região sob influência política dos Maranhão), ligados aos interesses da economia açucareira, e os representantes sertanejos, do Seridó e do Oeste, ligados aos interesses do algodão-pecuária e do sal. Nas eleições de 1º de março de 1930, José Augusto foi reconduzido ao Senado, enquanto Rafael Fernandes, Dioclécio Duarte, Cristóvão Dantas e Eloy de Souza foram eleitos para a Câmara; Alberto Maranhão não conseguiu se reeleger. Eloy de Souza, seu aliado em 1927, estava vinculado, agora, à outra facção, da mesma forma que estivera antes a Pedro Velho, ao próprio Alberto Maranhão e a Ferreira Chaves.
FONTE - TRIBUNA DO NORTE

UM CONTEXTO DE AGUDOS CONFLITOS SOCIAIS


A Intentona Comunista de 1935 não foi um episódio isolado que ocorreu apenas no Rio Grande do Norte. Ela surgiu dentro de um contexto internacional e, ao mesmo tempo, brasileiro.
Na "História do Povo Brasileiro" se encontra a descrição do cenário no qual a Intentona se realizou: "Naquela época de agudos conflitos sociais, a democracia clássica se imobiliza, enleada em impedimentos formais, enquanto os ditadores de esquerda e de direita, vencidos os impecilhos internos preparavam-se para o inevitável confronto mundial (...) O Brasil tornou-se, assim, o grande centro de competições entre os idealistas totalitários, na América Latina, no interregno liberal de 1934 a 1937.
A Constituição de 1934, que havia escolhido Getúlio Vargas para presidente da República por via indireta, ensejou a formação de partidos políticos. Entre as organizações partidárias nascidas na ocasião estava a "Aliança Nacional Libertadora", de orientação comunista, cujo presidente de honra era Luís Carlos prestes, filiado ao PC (Partido Comunista) desde 1928. A "Aliança Nacional Libertadora' encarregou-se organizar greves e manifestações públicas onde pediam o candelamento da dívida imperialista, nacionalização de empresas estrangeiras e o fim do latifúndio, entre outras reivindicações. Objetivam também: impor o vasto programa da ANL (Aliança Nacional Libertadora); a queda do governo Vargas; o fim do fascismo; a defesa da pequena propriedade; jornada de oito horas de trabalho; aposentadoria, e defesa do salário mínimo.
Foi a ANL que inspirou o movimento comunista que eclodiu em novembro de 1935 na cidade de Natal e que ficou conhecido como sendo a Intentona Comunista.
O fato é que, como disse Tarcísio Medeiros, "foi nesse ambiente que o interregno liberal, de 1934 a 1937, foi dominando o Brasil, no qual as correntes democráticas perdiam o controle das massas e das ruas, envolvidas nas competições pessoais e nas tricas de campanário"
FONTE - TRIBUNA DO NORTE

NUMA SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL, OS CONFLITOS SÃO GENERALIZADOS


Esta sociedade vê desaparecerem simultaneamente o sagrado e o tradicional. Este tema certamente não é novo e nem deve sê-lo. A idéia de sociedade pós-industrial só intervém aqui como forma renovada, e mais consciente de si mesma, do velho tema da industrialização ou mesmo da modernização.
As reivindicações sociais foram desarticuladas no passado pelo fato de que combatiam sempre um adversário social real mas que também recorriam ao representante de uma ordem meta-social. O trabalhador dependente combate seu senhor, proprietário da terra ou comerciante, mas recorre à justiça do padre ou do rei. O operário combate o capitalismo, mas o socialismo é também convocação a um Estado nacional, agente quase "natural" do desenvolvimento histórico. Mais ainda, todo movimento social, agente de conflito, sempre vinculou sua ação de oposição à imagem de uma comunidade reunificada que permitisse a expansão do homem, o livre desenvolvimento das forças produtivas, a realização da unidade nacional, a defesa do bem comum etc. Os conflitos, pelo menos os fundamentais, os menos negociáveis, foram geralmente associados à imagem de uma natureza social liberada de conflitos, encarnação na ordem social de uma ordem meta-social. Ao mesmo tempo, cada sociedade mantinha um setor reservado, ao abrigo dos conflitos sociais. Não vivemos ainda o tema sagrado da ciência, domínio reservado da sociedade industrial, reclamado tanto pela direita e pela esquerda, como por capitalistas e socialistas?
Não apenas o sagrado desaparece, como é cercado por conflitos fundamentais: no lugar de um mundo superior de unidade, passa-se a girar em torno dos conflitos sociais.
Um aspecto simbólico desta generalização dos conflitos é o desaparecimento do sonho da sociedade sem classes e sem conflitos. No interior do mundo socialista cada passo à frente parece afastar mais a comunidade final. Os conflitos de classes, como já foi dito na China, mantêm-se na sociedade socialista: na França fala-se apenas de sociedade de transição ao socialismo.
A contrapartida deste desaparecimento do sagrado é o desaparecimento da tradição, ou seja, além do que é transmitido do passado, das regras de organização social e cultural fundadas sobre a manutenção ou a sobrevivência da coletividade: desaparecimento dos sistemas de troca, decomposição dos sistemas de parentesco, implosão das comunidades, enfraquecimento ou crise dos mecanismos de reprodução social'. O ensino era reconhecido como agente de transmissão de uma determinada herança cultural e ao mesmo tempo como mecanismo de adaptação às transformações profissionais e sociais. A primeira dessas funções se enfraquece brutalmente e surgem reivindicações contra um ensino que aparece ao mesmo tempo como arcaico e como agente de inculcação das normas dominantes. Este exemplo, por demais conhecido para ser longamente apresentado, é importante porque mostra a penetração dos conflitos num imenso domínio que parecia até então alheio aos conflitos sociais, o da "vida privada": família, educação, relações sexuais.
O declínio do sagrado e da tradição, generalização dos conflitos, enfraquece progressivamente, e freqüentemente de maneira espetacular, o papel da intelligentsia, definida como o conjunto das pessoas instruídas que servem de mediadoras entre as categorias excluídas do sistema político e este.
Uma sociedade pós-industrial tende a ser uma sociedade de massa, ou seja, a realizar uma "mobilização" cada vez mais generalizada da população. O desenvolvimento rápido das informações e das comunicações, que é próprio da sociedade pós-industrial e que não o era na sociedade industrial, enfraquece o papel dos intermediários. A idéia, difundida pelo leninismo e de maneira muito mais extrema pela maioria dos movimentos nacionalistas e revolucionários do Terceiro Mundo, de que as reivindicações sociais precisam ser assumidas por um partido político para saírem da dependência em que se encontram, parece já muito em atraso com relação à prática das sociedades industrializadas. Embora os movimentos de base e o apelo à espontaneidade tenham outras causas e por este motivo possam ser fenômenos de curta duração, parecem ser um dos sinais de uma transformação mais duradoura: a re-aproximação entre a base social de uma ação coletiva e suas formas de ação ao nível societal. Esta observação não dispensa absolutamente as formas do sistema político mas indica o declínio do partido mediador. A reivindicação questiona diretamente as determinações gerais da sociedade, tanto quando esta reivindicação é trazida por um grupo de interesses reformistas, como quando ela é a ação de uma força revolucionária. É isto que explica também que o poder seja cada vez mais sensível à "opinião pública": esta expressão , um tanto vaga indica na realidade um conjunto de grupos de pressão, de interesses, de conflitos, cada vez mais autônomos.
Esta sensibilidade pode vir acompanhada, da parte do poder, de um sentimento de insegurança e, conseqüentemente, do desenvolvimento cada vez mais rápido de propagandas, de repressões ou de controles ideológicos: mas pode também conduzir à descentralização das decisões.
Este confronto do poder central com os movimentos de base não implica por si mesmo nenhum enfraquecimento ou reforço do sistema político. Ele é importante, na medida em que mostra o aparecimento generalizado de movimentos sociais que tomam forma, não ao nível de uma coletividade política, mas dos próprios problemas sociais. Já é o que anunciava o internacionalismo do movimento operário, mas esta tendência à autonomia dos movimentos sociais com relação a sua expressão política (cuja contrapartida veremos mais adiante) adquire uma importância muito maior, reforçada pelo papel dos mass-média que se substituem à intelligentsia e às mediações propriamente políticas.

DIANTE DE UM APARELHO DE PODER CADA VEZ MAIS INTEGRADO, A OPOSIÇÃO TENDE A SER CONDUZIDA POR GRUPOS CADA VEZ MAIS ABRANGENTES


Esta proposta dá continuidade à precedente. Os conflitos principais estavam sempre ligados ao domínio meta-social que parecia governar a sociedade. A idéia de que a sociedade é dominada pela economia situava os conflitos fundamentais no setor do trabalho, do mesmo modo que, na sociedade que precedeu a sociedade industrial, o papel eminente da soberania política dava uma importância central aos conflitos sobre a cidadania e os direitos cívicos. Em cada sociedade parece existir assim um papel social privilegiado ao qual correspondem os conflitos fundamentais.
Esta situação desaparece na sociedade definida não mais por sua submissão a uma ordem meta-social, mas por seus modos de ação sobre si mesma. A dominação social sai aí de um domínio particular para integrá-los a todos. Neste tipo de sociedade um regime autoritário pode se tornar totalitário embora nada, evidentemente, imponha a tais sociedades terem um regime autoritário. Constitui-se por toda a parte um modo de gestão global que não pode se reduzir a uma política econômica. Os países que acreditam poder se transformar economicamente conservando ao mesmo tempo formas de organização social herdadas do passado, arriscam serem incapazes de penetrar profundamente na sociedade pós-industrial. É o que acontece com a Europa ocidental, que é bastante moderna economicamente para entrar na agilidade da sociedade americana, mas não o suficiente, socialmente, para se tornar um centro autônomo de desenvolvimento.
Gestão e controle sociais se aproximam, pois trata-se cada vez mais de administrar homens. As ciências sociais já deram à luz, há muito tempo, tecnologias, sobretudo na esfera econômica, onde a previsão e a planificação se assentam sobre uma informação econômica muito melhorada, orientando as decisões que às vezes podem ser até mesmo simuladas. O mesmo pode ocorrer no domínio propriamente social, onde as relações de ensino e de autoridade são transformadas sob a influência das ciências sociais. O fato de que as grandes empresas tenham recorrido freqüentemente a formas caricaturais de intervenção psico-sociológica, não deve fazer crer que estas são inoperantes, que não passam de uma cortina de fumaça ideológica. Uma das linhas de demarcação mais nítida entre a sociedade industrial e a sociedade pós-industrial é aquela que faz passar de uma separação entre a técnica e a cultura — aquela considerada produtora e esta considerada como reprodutora — a uma interdependência dos "fatores" técnicos e dos fatores humanos. A crítica dirigida desde o começo do século XX contra a racionalização tayloriana e o desenvolvimento da sociologia do trabalho teve e ainda tem fundamental importância ao impor, pouco a pouco, uma análise em termos de organizações e não mais em termos de empresas (concebidas de maneira puramente econômica ou como formas técnicas de produção).
Estas poucas observações não têm outra finalidade que a de explicar a transformação central dos conflitos sociais. Não é mais em nome do cidadão ou em nome do trabalhador que podem ser conduzidas grandes lutas reivindicatorías contra um aparelho de dominação que rege cada vez mais o conjunto da sociedade para orientá-la em direção a um certo tipo de desenvolvimento; é em nome das coletividades, definidas pelo seu existir mais do que por sua atividade. A reviravolta com relação às sociedades passadas é evidente. O negotium era a base reivindicativa das categorias populares, contra o otium da classe dirigente; esta é atualmente negotium, e não mais leisure class. Inversamente, os grupos que sofrem a dominação social defendem-se primeiramente por uma resistência global contra a manipulação. Contra uma dominação global, a resistência não pode ser limitada a um papel social; ela só adquire importância quando mobiliza o conjunto da coletividade.
Os estudantes podem representar um papel importante porque seu aumento numérico e o prolongamento da duração dos estudos criaram coletividades estudantis que ocupam um espaço próprio e que opõem a resistência de sua cultura e de suas preocupações pessoais ao espaço das grandes organizações que se impõem cada vez mais diretamente a eles.
Os problemas do trabalho não desaparecem, mas são englobados num conjunto mais amplo. Enquanto tais, eles deixam de representar um papel central. É inútil procurar indícios de uma renovação revolucionária propriamente operária.
Nos lugares onde aparentemente é o mais combativo, como na Itália e na França, o movimento operário, através dos conflitos e das crises que podem ser violentas, obtém pouco a pouco uma ampliação dos direitos e da capacidade de negociação, portanto, uma certa institucionalização dos conflitos do trabalho. Nestes países os partidos comunistas ou socialistas tornam-se progressivamente movimentos "republicanos" ou "democratas" análogos ao radicalismo do fim do século XIX e visam à incorporação no sistema político de categorias sociais relativamente sacrificadas socialmente. Goldthorpe1 e seus colaboradores deixaram bem claro que isto não significa um aburguesamento da classe operária; também não indica a manutenção ou a simples renovação do movimento operário. Este deixa de ser um personagem central da história social à medida que nos aproximamos da sociedade pós-industrial.
Pode-se até mesmo observar que a maioria dos movimentos sociais que ocupam atualmente o cenário da história apóiam-se num "estatuto transmitido" e não mais num "estatuto adquirido" pelo ator. Fala-se do movimento das mulheres ou dos jovens, dos negros ou dos índios americanos, dos habitantes de uma região, de um país ou de um continente.
O erro seria acreditar que se passa de movimentos sociais a movimentos contraculturais: expressão bastante vaga e que se baseia numa interpretação, a meus olhos falsa, do significado de acontecimentos como os de maio de 68. Não se deve confundir o surgimento de utopias de um tipo novo e os movimentos sociais. Mas essas novas utopias são importantes porque indicam a direção na qual se formarão os novos movimentos sociais

OS CONFLITOS ESTRUTURAIS SE SEPARAM DOS CONFLITOS LIGADOS À MUDANÇA


Na maior parte do mundo os problemas de desenvolvimento encabeçam todos os outros; as sociedades se definem mais por sua maneira de mudar de tipo de sociedade do que por problemas específicos de um tipo ou de outro. Nas sociedades industrializadas, porém, a realidade é inversa. Embora se encontrem em rápida transformação, elas vivem cada vez mais sincronicamente. O que também está ligado à amplificação do sistema político e ao desenvolvimento de uma sociedade e de uma cultura de massa. O que leva a se reconhecer os limites do crescimento. Tema essencial, pois rompe com o historicismo e o evolucionismo do século passado do qual ainda éramos tributários. Torna-se portanto cada vez mais difícil definir as forças de oposição como portadoras de um novo poder: a oposição deve se definir como tal, sem trazer em si mesma um modelo de sociedade e o gérmen de um novo Estado. A classe popular não pode mais ser identificada como um novo tipo de dirigente. Descobrimos que os conflitos de classes não representam mais os instrumentos de mudanças históricas. O que explica que tenhamos encontrado mais forças de resistência e de defesa do que uma capacidade de contra-ofensiva, mais uma situação conflitual do que conflitos.
Normalmente os grupos na defensiva eram levados à contra-ofensiva, seja por uma nova classe dirigente, seja por uma elite política e ideológica. Independentes, as forças de conflitos não correm o risco de permanecerem puramente defensivas, enquanto o aparelho (de Estado) reinará como o Sol no meio da sociedade? Não é surpreendente verificar que na parte do mundo onde a oposição não é abafada, ela é dilacerada sem que apareça um movimento social geral análogo ao que pôde ser o movimento operário no coração do período precedente? No resto do mundo, ao contrário, a dominação dos grandes impérios faz com que o Estado se torne o principal agente de oposição, desde que a coletividade nacional seja independente.
Este tipo de mobilização coletiva, que deve permitir a um país ultrapassar uma nova etapa apesar dos obstáculos que se opõem ao seu progresso e particularmente apesar da dependência que ele sofre, não é da mesma natureza que os movimentos sociais que se formam no interior de um tipo de sociedade pós-industrial. Do mesmo modo, não se pode confundir o movimento operário, oposição estrutural ao capitalismo, com a ação do Estado, seja ela revolucionária ou conservadora, de industrialização voluntária num país dependente ou subdesenvolvido.
Nestas condições, um conjunto de movimentos sociais ideologicamente coerente não pode adquirir um princípio de unidade que faria dele um possível gestor. O que unifica os movimentos sociais de oposição não pode ser nada mais que sua atitude de oposição.
O único princípio possível de unidade das forças de oposição e de resistência no tipo de sociedade em que entramos é sua ação crítica procurando constantemente quebrar a crosta das ideologias, das categorias da prática e dos papéis desempenhados, para reencontrar não a espontaneidade ou a natureza humana, mas a realidade das relações sociais. Essas sociedades estão condenadas a serem autoritárias, a serem aparatos, se não forem transformadas por esta atividade crítica, condição elementar da democracia. Diante do soberano a democracia foi política; diante do capitalismo ela teve de se tornar "social", ou seja, penetrar no domínio do trabalho, tornar-se democracia industrial. Diante do aparato governamental que comanda cada vez mais todos os aspectos da vida social, a democracia só pode ser abrangente e cultural, no sentido em que se falou de revolução cultural. O conflito portanto deve ser introduzido e reconhecido em todos os domínios da vida social e particularmente ao nível da organização social e cultural, portanto, da ordem estabelecida. Onde exista uma ordem, deve existir uma contestação da ordem, derrisória se ela visa criar uma contra-ordem paralela como quiseram as universidades críticas, mais dogmáticas do que as outras, mas fundamental na medida em que lembra que a ordem esconde interesses, conflitos — aquilo que está em jogo. Não vemos às vezes os agentes sociais tradicionalmente consagrados à formação e à transmissão da ordem social e cultural, como a escola, a igreja ou até mesmo a família, tornarem-se centros de" refúgio e cada vez mais freqüentemente centros de contestação? Os conflitos em formação são cada vez mais dirigidos contra as "superestruturas" ou, para falar mais simplesmente, contra a ordem, pois o novo poder tem uma capacidade até então desconhecida de se dar uma aparência de ordem, de dominar o conjunto de uma organização social e as categorias da prática social, em vez de ficar confinado em fortalezas, em palácios ou nos centros financeiros. Entramos num tipo de sociedade que não pode mais "ter" conflitos: ou estes são reprimidos no quadro de uma ordem autoritária, ou a sociedade se reconhece como conflito, é conflito, pois ela é nada mais que a luta de interesses opostos pelo controle da capacidade de agir sobre si mesma.
A esta unidade dos movimentos de oposição acrescenta-se um mecanismo mais positivo de unificação: a ação propriamente política. Conseqüência direta da separação já indicada entre o movimento social e o partido. Desde que o movimento não é mais a base ou a matéria-prima da ação de um partido, é preciso inverter a relação e reconhecer que os movimentos sociais só se constituem e se integram entre si na medida em que estão em relação com forças políticas que não são de modo algum seus representantes, mas que apóiam sobre eles sua estratégia. Movimentos sociais populares só podem se organizar dentro de uma estratégia política de "esquerda", mas estes movimentos sociais são e serão cada vez mais independentes dos partidos políticos. Estes fracassam se forem ideológicos; aqueles que se dividem, se dispersam, se não forem unificados estrategicamente, ou seja, a partir de objetivos propriamente políticos e portanto amplamente instrumentais mas em relação aos quais conservam sua liberdade e até mesmo mantêm sempre um papel de oposição ou de manifestação. Conseqüentemente, a forma de ação dos movimentos sociais dependerá cada vez mais das características do sistema político.
Em compensação, por mais espalhados que estejam, são portadores de um sentido global, de uma imagem da sociedade, e não se encontram de modo algum fechados no mundo limitado das reivindicações e das reformas. Se, portanto, o sistema político se fecha, submetido a um despotismo, os movimentos sociais conseqüentemente se dispersam e acabam por se confundir com comportamentos marginais ou de desvio.
A relativa importância dos movimentos sociais de base e de sua integração num nível propriamente político depende antes de tudo do grau de separação entre os problemas de desenvolvimento e os problemas próprios ao funcionamento de uma sociedade pós-industrial. Conseqüentemente, quanto mais uma sociedade tenha penetrado facilmente neste tipo de sociedade, maior é o papel do sistema político e de seus componentes, o que favorece uma forte diversificação dos movimentos de base no espírito de uma grass roots democracy. Quando os obstáculos à entrada na sociedade pós-industrial são maiores, as instituições políticas são menos autônomas com relação ao Estado ou, ao contrário, com relação à burguesia estrangeira que dirige o desenvolvimento, e os movimentos de oposição são unificados, mais por uma ideologia de oposição social do que por uma estratégia política. Os dois casos correspondem talvez à oposição clássica entre sociedades modernas como a Suécia, os Estados Unidos, a Alemanha ou mesmo a Grã-Bretanha, e sociedades ainda muito heterogêneas com grandes setores arcaicos, como a França ou a Itália.
A idéia que domina as diferentes hipóteses que acabam de ser formuladas pode ser facilmente resumida. Uma sociedade pós-industrial não sendo nada mais senão o que faz e havendo suprimido qualquer recurso a essências, torna-se inteiramente campo de conflitos. Estes podem ou não ser negociados e limitados, conforme o estado da coletividade política considerada e de suas instituições. Idéia que se opõe evidentemente à opinião segundo a qual o enriquecimento acalmaria os conflitos e mais ainda àquela, demasiado superficial para merecer grande discussão, que anuncia a reabsorção dos "grandes conflitos" numa profusão de tensões, de estratégias e de negociações muito empíricas, puramente orientadas para a administração dá mudança.
É essencial colocar a existência de um tipo societal e analisar seus conflitos estruturais. Pode-se recusar a separação aceita aqui entre sociedade industrial e sociedade pós-industrial; não se pode pensar que o único problema das sociedades mais industrializadas seja administrar a mudança. Os problemas do poder e da dominação social não desapareceram e os conflitos estruturais continuam a se ampliar à medida que o campo do sagrado se funde ao calor das transformações planificadas ou organizadas.
FONTE - http://www.scielo.br

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