terça-feira, 4 de junho de 2013

OS CONFLITOS ESTRUTURAIS SE SEPARAM DOS CONFLITOS LIGADOS À MUDANÇA


Na maior parte do mundo os problemas de desenvolvimento encabeçam todos os outros; as sociedades se definem mais por sua maneira de mudar de tipo de sociedade do que por problemas específicos de um tipo ou de outro. Nas sociedades industrializadas, porém, a realidade é inversa. Embora se encontrem em rápida transformação, elas vivem cada vez mais sincronicamente. O que também está ligado à amplificação do sistema político e ao desenvolvimento de uma sociedade e de uma cultura de massa. O que leva a se reconhecer os limites do crescimento. Tema essencial, pois rompe com o historicismo e o evolucionismo do século passado do qual ainda éramos tributários. Torna-se portanto cada vez mais difícil definir as forças de oposição como portadoras de um novo poder: a oposição deve se definir como tal, sem trazer em si mesma um modelo de sociedade e o gérmen de um novo Estado. A classe popular não pode mais ser identificada como um novo tipo de dirigente. Descobrimos que os conflitos de classes não representam mais os instrumentos de mudanças históricas. O que explica que tenhamos encontrado mais forças de resistência e de defesa do que uma capacidade de contra-ofensiva, mais uma situação conflitual do que conflitos.
Normalmente os grupos na defensiva eram levados à contra-ofensiva, seja por uma nova classe dirigente, seja por uma elite política e ideológica. Independentes, as forças de conflitos não correm o risco de permanecerem puramente defensivas, enquanto o aparelho (de Estado) reinará como o Sol no meio da sociedade? Não é surpreendente verificar que na parte do mundo onde a oposição não é abafada, ela é dilacerada sem que apareça um movimento social geral análogo ao que pôde ser o movimento operário no coração do período precedente? No resto do mundo, ao contrário, a dominação dos grandes impérios faz com que o Estado se torne o principal agente de oposição, desde que a coletividade nacional seja independente.
Este tipo de mobilização coletiva, que deve permitir a um país ultrapassar uma nova etapa apesar dos obstáculos que se opõem ao seu progresso e particularmente apesar da dependência que ele sofre, não é da mesma natureza que os movimentos sociais que se formam no interior de um tipo de sociedade pós-industrial. Do mesmo modo, não se pode confundir o movimento operário, oposição estrutural ao capitalismo, com a ação do Estado, seja ela revolucionária ou conservadora, de industrialização voluntária num país dependente ou subdesenvolvido.
Nestas condições, um conjunto de movimentos sociais ideologicamente coerente não pode adquirir um princípio de unidade que faria dele um possível gestor. O que unifica os movimentos sociais de oposição não pode ser nada mais que sua atitude de oposição.
O único princípio possível de unidade das forças de oposição e de resistência no tipo de sociedade em que entramos é sua ação crítica procurando constantemente quebrar a crosta das ideologias, das categorias da prática e dos papéis desempenhados, para reencontrar não a espontaneidade ou a natureza humana, mas a realidade das relações sociais. Essas sociedades estão condenadas a serem autoritárias, a serem aparatos, se não forem transformadas por esta atividade crítica, condição elementar da democracia. Diante do soberano a democracia foi política; diante do capitalismo ela teve de se tornar "social", ou seja, penetrar no domínio do trabalho, tornar-se democracia industrial. Diante do aparato governamental que comanda cada vez mais todos os aspectos da vida social, a democracia só pode ser abrangente e cultural, no sentido em que se falou de revolução cultural. O conflito portanto deve ser introduzido e reconhecido em todos os domínios da vida social e particularmente ao nível da organização social e cultural, portanto, da ordem estabelecida. Onde exista uma ordem, deve existir uma contestação da ordem, derrisória se ela visa criar uma contra-ordem paralela como quiseram as universidades críticas, mais dogmáticas do que as outras, mas fundamental na medida em que lembra que a ordem esconde interesses, conflitos — aquilo que está em jogo. Não vemos às vezes os agentes sociais tradicionalmente consagrados à formação e à transmissão da ordem social e cultural, como a escola, a igreja ou até mesmo a família, tornarem-se centros de" refúgio e cada vez mais freqüentemente centros de contestação? Os conflitos em formação são cada vez mais dirigidos contra as "superestruturas" ou, para falar mais simplesmente, contra a ordem, pois o novo poder tem uma capacidade até então desconhecida de se dar uma aparência de ordem, de dominar o conjunto de uma organização social e as categorias da prática social, em vez de ficar confinado em fortalezas, em palácios ou nos centros financeiros. Entramos num tipo de sociedade que não pode mais "ter" conflitos: ou estes são reprimidos no quadro de uma ordem autoritária, ou a sociedade se reconhece como conflito, é conflito, pois ela é nada mais que a luta de interesses opostos pelo controle da capacidade de agir sobre si mesma.
A esta unidade dos movimentos de oposição acrescenta-se um mecanismo mais positivo de unificação: a ação propriamente política. Conseqüência direta da separação já indicada entre o movimento social e o partido. Desde que o movimento não é mais a base ou a matéria-prima da ação de um partido, é preciso inverter a relação e reconhecer que os movimentos sociais só se constituem e se integram entre si na medida em que estão em relação com forças políticas que não são de modo algum seus representantes, mas que apóiam sobre eles sua estratégia. Movimentos sociais populares só podem se organizar dentro de uma estratégia política de "esquerda", mas estes movimentos sociais são e serão cada vez mais independentes dos partidos políticos. Estes fracassam se forem ideológicos; aqueles que se dividem, se dispersam, se não forem unificados estrategicamente, ou seja, a partir de objetivos propriamente políticos e portanto amplamente instrumentais mas em relação aos quais conservam sua liberdade e até mesmo mantêm sempre um papel de oposição ou de manifestação. Conseqüentemente, a forma de ação dos movimentos sociais dependerá cada vez mais das características do sistema político.
Em compensação, por mais espalhados que estejam, são portadores de um sentido global, de uma imagem da sociedade, e não se encontram de modo algum fechados no mundo limitado das reivindicações e das reformas. Se, portanto, o sistema político se fecha, submetido a um despotismo, os movimentos sociais conseqüentemente se dispersam e acabam por se confundir com comportamentos marginais ou de desvio.
A relativa importância dos movimentos sociais de base e de sua integração num nível propriamente político depende antes de tudo do grau de separação entre os problemas de desenvolvimento e os problemas próprios ao funcionamento de uma sociedade pós-industrial. Conseqüentemente, quanto mais uma sociedade tenha penetrado facilmente neste tipo de sociedade, maior é o papel do sistema político e de seus componentes, o que favorece uma forte diversificação dos movimentos de base no espírito de uma grass roots democracy. Quando os obstáculos à entrada na sociedade pós-industrial são maiores, as instituições políticas são menos autônomas com relação ao Estado ou, ao contrário, com relação à burguesia estrangeira que dirige o desenvolvimento, e os movimentos de oposição são unificados, mais por uma ideologia de oposição social do que por uma estratégia política. Os dois casos correspondem talvez à oposição clássica entre sociedades modernas como a Suécia, os Estados Unidos, a Alemanha ou mesmo a Grã-Bretanha, e sociedades ainda muito heterogêneas com grandes setores arcaicos, como a França ou a Itália.
A idéia que domina as diferentes hipóteses que acabam de ser formuladas pode ser facilmente resumida. Uma sociedade pós-industrial não sendo nada mais senão o que faz e havendo suprimido qualquer recurso a essências, torna-se inteiramente campo de conflitos. Estes podem ou não ser negociados e limitados, conforme o estado da coletividade política considerada e de suas instituições. Idéia que se opõe evidentemente à opinião segundo a qual o enriquecimento acalmaria os conflitos e mais ainda àquela, demasiado superficial para merecer grande discussão, que anuncia a reabsorção dos "grandes conflitos" numa profusão de tensões, de estratégias e de negociações muito empíricas, puramente orientadas para a administração dá mudança.
É essencial colocar a existência de um tipo societal e analisar seus conflitos estruturais. Pode-se recusar a separação aceita aqui entre sociedade industrial e sociedade pós-industrial; não se pode pensar que o único problema das sociedades mais industrializadas seja administrar a mudança. Os problemas do poder e da dominação social não desapareceram e os conflitos estruturais continuam a se ampliar à medida que o campo do sagrado se funde ao calor das transformações planificadas ou organizadas.
FONTE - http://www.scielo.br

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