terça-feira, 4 de junho de 2013

DIANTE DE UM APARELHO DE PODER CADA VEZ MAIS INTEGRADO, A OPOSIÇÃO TENDE A SER CONDUZIDA POR GRUPOS CADA VEZ MAIS ABRANGENTES


Esta proposta dá continuidade à precedente. Os conflitos principais estavam sempre ligados ao domínio meta-social que parecia governar a sociedade. A idéia de que a sociedade é dominada pela economia situava os conflitos fundamentais no setor do trabalho, do mesmo modo que, na sociedade que precedeu a sociedade industrial, o papel eminente da soberania política dava uma importância central aos conflitos sobre a cidadania e os direitos cívicos. Em cada sociedade parece existir assim um papel social privilegiado ao qual correspondem os conflitos fundamentais.
Esta situação desaparece na sociedade definida não mais por sua submissão a uma ordem meta-social, mas por seus modos de ação sobre si mesma. A dominação social sai aí de um domínio particular para integrá-los a todos. Neste tipo de sociedade um regime autoritário pode se tornar totalitário embora nada, evidentemente, imponha a tais sociedades terem um regime autoritário. Constitui-se por toda a parte um modo de gestão global que não pode se reduzir a uma política econômica. Os países que acreditam poder se transformar economicamente conservando ao mesmo tempo formas de organização social herdadas do passado, arriscam serem incapazes de penetrar profundamente na sociedade pós-industrial. É o que acontece com a Europa ocidental, que é bastante moderna economicamente para entrar na agilidade da sociedade americana, mas não o suficiente, socialmente, para se tornar um centro autônomo de desenvolvimento.
Gestão e controle sociais se aproximam, pois trata-se cada vez mais de administrar homens. As ciências sociais já deram à luz, há muito tempo, tecnologias, sobretudo na esfera econômica, onde a previsão e a planificação se assentam sobre uma informação econômica muito melhorada, orientando as decisões que às vezes podem ser até mesmo simuladas. O mesmo pode ocorrer no domínio propriamente social, onde as relações de ensino e de autoridade são transformadas sob a influência das ciências sociais. O fato de que as grandes empresas tenham recorrido freqüentemente a formas caricaturais de intervenção psico-sociológica, não deve fazer crer que estas são inoperantes, que não passam de uma cortina de fumaça ideológica. Uma das linhas de demarcação mais nítida entre a sociedade industrial e a sociedade pós-industrial é aquela que faz passar de uma separação entre a técnica e a cultura — aquela considerada produtora e esta considerada como reprodutora — a uma interdependência dos "fatores" técnicos e dos fatores humanos. A crítica dirigida desde o começo do século XX contra a racionalização tayloriana e o desenvolvimento da sociologia do trabalho teve e ainda tem fundamental importância ao impor, pouco a pouco, uma análise em termos de organizações e não mais em termos de empresas (concebidas de maneira puramente econômica ou como formas técnicas de produção).
Estas poucas observações não têm outra finalidade que a de explicar a transformação central dos conflitos sociais. Não é mais em nome do cidadão ou em nome do trabalhador que podem ser conduzidas grandes lutas reivindicatorías contra um aparelho de dominação que rege cada vez mais o conjunto da sociedade para orientá-la em direção a um certo tipo de desenvolvimento; é em nome das coletividades, definidas pelo seu existir mais do que por sua atividade. A reviravolta com relação às sociedades passadas é evidente. O negotium era a base reivindicativa das categorias populares, contra o otium da classe dirigente; esta é atualmente negotium, e não mais leisure class. Inversamente, os grupos que sofrem a dominação social defendem-se primeiramente por uma resistência global contra a manipulação. Contra uma dominação global, a resistência não pode ser limitada a um papel social; ela só adquire importância quando mobiliza o conjunto da coletividade.
Os estudantes podem representar um papel importante porque seu aumento numérico e o prolongamento da duração dos estudos criaram coletividades estudantis que ocupam um espaço próprio e que opõem a resistência de sua cultura e de suas preocupações pessoais ao espaço das grandes organizações que se impõem cada vez mais diretamente a eles.
Os problemas do trabalho não desaparecem, mas são englobados num conjunto mais amplo. Enquanto tais, eles deixam de representar um papel central. É inútil procurar indícios de uma renovação revolucionária propriamente operária.
Nos lugares onde aparentemente é o mais combativo, como na Itália e na França, o movimento operário, através dos conflitos e das crises que podem ser violentas, obtém pouco a pouco uma ampliação dos direitos e da capacidade de negociação, portanto, uma certa institucionalização dos conflitos do trabalho. Nestes países os partidos comunistas ou socialistas tornam-se progressivamente movimentos "republicanos" ou "democratas" análogos ao radicalismo do fim do século XIX e visam à incorporação no sistema político de categorias sociais relativamente sacrificadas socialmente. Goldthorpe1 e seus colaboradores deixaram bem claro que isto não significa um aburguesamento da classe operária; também não indica a manutenção ou a simples renovação do movimento operário. Este deixa de ser um personagem central da história social à medida que nos aproximamos da sociedade pós-industrial.
Pode-se até mesmo observar que a maioria dos movimentos sociais que ocupam atualmente o cenário da história apóiam-se num "estatuto transmitido" e não mais num "estatuto adquirido" pelo ator. Fala-se do movimento das mulheres ou dos jovens, dos negros ou dos índios americanos, dos habitantes de uma região, de um país ou de um continente.
O erro seria acreditar que se passa de movimentos sociais a movimentos contraculturais: expressão bastante vaga e que se baseia numa interpretação, a meus olhos falsa, do significado de acontecimentos como os de maio de 68. Não se deve confundir o surgimento de utopias de um tipo novo e os movimentos sociais. Mas essas novas utopias são importantes porque indicam a direção na qual se formarão os novos movimentos sociais

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